Gustavot Diaz
O QUE O DESENHO ME ENSINA | Reflexões sobre a Prática do Desenho
Este é o vídeo piloto da nova série onde procuramos extrair da prática desenhística saberes para além de conteúdos técnicos do Desenho. Desapego, resiliência, alteridade, criatividade e auto-análise são alguns dos elementos que investigaremos, sempre em torno das lições que aprendemos desenhando.
O exercício constante do desenho – o treino, a disciplina, a prática tão preconizada nos livros e manuais não significa uma demanda de exclusividade ou repetição obsessiva do desenhista. A prática não está circunscrita à operacionalização do desenho, ela está vinculada ao exercício permanente de pesquisa estética, e extrapola o espaço determinado da técnica aplicada.

GUSTAVOT DIAZ “Selfie portrait” (em processo)
Mais do que aplicar sombra e luz e perspectiva em um papel, o desenhista se sintoniza com a tradição na disposição permanente de investigação sobre o que mobiliza sua vontade. A prática demanda, de fato prioridade: é mais do que experimentação de materiais, cópia, repetição – é o teste dos limites de nosso conhecimento. A pergunta final a que o desenhista deve responder com sua prática é: o que eu desejo? A prática exige humildade, aceitação do lugar do desconhecimento, do lugar de não saber o que vem a seguir porque o próximo passo é sempre o novo, e por isso, nos dá medo. Medo é o desconforto de não saber agir diante de algo – justamente porque é inédito, ainda não registrado no repertório das experiências convencionadas.
Medo é a insegurança da exigência de inventar novos modos de agir para além daqueles já pautados pelo hábito, testados pelo costume.
A prática que nos leva à constante experimentação, nos coloca sempre diante de algo novo, e não nos reconhecemos na própria reação que ele nos desperta. Ela exige a invenção de soluções plásticas que forjam a constituição de um saber prático na experimentação. Deste modo não mais nos identificamos com aquilo que elegemos para ser segundo as reações programadas que nos informam a nós mesmos aquilo que somos. O contato com o novo, com o experimental, nos “desidentifica”, nos retira a estabilidade do saber e nos coloca onde então perdemos momentaneamente nossa identidade, nosso “eu mesmo”.
É na prática do desenho entendida como pesquisa estética que podemos nos descobrir e só então revelar o novo: pois para descobrir é necessário aceitar que algo nos é desconhecido; algo que é fundamentalmente nós mesmos – algo que é o ‘eu’ do desenhista que será afetado e transformado pela prática. Aceitar o desconhecido que habita em nós exige, sobretudo desapego, pois desenhar é desver.
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